Lucirene
da Silva Carvalho[1]
É bastante comum ver os estudantes de
letras se confundindo sobre o que é o quê, já que as duas áreas estudam os sons
da fala. Afinal, qual é a diferença? E, finalmente, qual é a importância da fonética
e da fonologia na linguística?
O estudo da fala é bem antigo, datando
certamente mais de 2000 anos, e não é difícil de entender o porquê desse
interesse. Tirando as pessoas que tenham tido algum problema que as impeça de
falar, todo mundo usa algum idioma pra se comunicar, seja ele qual for. Através
do idioma a gente expressa ideias, emoções e desejos, utilizando um sistema de
“símbolos auditivos” produzidos pelos órgãos da fala, que são os sons.
Mas, os primeiros linguistas chegavam a
algumas conclusões um tanto falhas em relação aos sons. Um exemplo foi o alemão
Jacob Grimm que, além de escrever fábulas com o irmão mais novo, também era chegado
aos estudos linguísticos. Ao descrever a estrutura fonética da palavra alemã
Schrift – segundo ele, essa palavra tem oito sons e sete letras. Ele confundia
o “f” com o “ph” do grego, e não percebia que “sch” representava um som só.
Mas, ainda que ele tenha confundido a língua falada com a língua escrita (erro
comum até hoje entre alguns alunos), ele foi responsável por uma admirável
descrição das mudanças consonantais das línguas germânicas (hoje conhecida como
“Lei de Grimm”) na sua Deutsche Grammatik (Gramática Alemã) de 1822.
A coisa começou a melhorar com o passar
dos anos, e em 1876, Eduard Sievers (também alemão) publicou o
livro Grundzüge der Lautphysiologie (Fundamentos da Fisiologia
Vocal), dando origem à fonética como uma disciplina separada da fisiologia
(onde estava até então) e dentro da linguística. “Ótimo”, você deve estar
pensando, “então esse foi um livro importante para o surgimento da fonética.
Mas, o que é fonética?”.
Lembra dos “símbolos auditivos” do
primeiro parágrafo? Pois então, é importante notar que é um tipo específico de
som que é interessante para os linguistas: os sons produzidos pelos órgãos da
fala. Vamos chamar essa quantidade limitada de sons produzidos pelos órgãos da
fala de meio fônico, e os sons individuais que aí estão de sons da
fala. Pois bem, aqui vai a primeira definição: A fonética é o estudo do meio
fônico ou, de maneira mais simples, a fonética é a área de estudo da linguística
que busca descrever os sons da fala. Simples, não? Como Lyons menciona no livro Lingua(gem)
e Linguística, existem três maneiras diferentes que a fonética pode descrever o
som: Fonética Articulatória,
que classifica os sons de acordo com a maneira que são produzidos; Fonética Acústica, que classifica os
sons de acordo com as propriedades físicas dos sons produzidos pelos falantes;
e Fonética Auditiva, que estuda
como os sons da fala são percebidos e identificados pelo ouvido e o cérebro do
ouvinte.
Uns 52 anos depois, foi organizado
o Primeiro Congresso Internacional de Linguistas, realizado em Haia (na
Holanda), onde se sentiu a importância de marcar uma diferença entre uma
ciência que tratasse dos sons da fala (a Fonética) e outra que tratasse dos
sons da língua — e é aí que temos a Fonologia.
A diferença entre os dois fica clara na
explicação do artigo sobre fonética, disponível no livro Linguagem e Linguística:
Uma Introdução, de Lyons.
A principal preocupação da Fonética é descrever os
sons da fala. Por exemplo, as afirmações típicas desta ciência é dizer que o
som [b] é articulado com uma corrente de ar pulmonar, egressiva, com vibração
das cordas vocais, com uma obstrução do fluxo de ar seguida de uma explosão;
(…) Por sua vez, a Fonologia busca interpretar os resultados obtidos
por meio da descrição (fonética) dos sons da fala, em função dos sistemas de
sons das línguas e dos modelos teóricos disponíveis. Faz parte do trabalho
fonológico explicar o porquê de os falantes de alguns dialetos do português do
Brasil considerarem como sendo “o mesmo som” as consoantes iniciais das palavras
tapa e tia ([t] e [tʃ] – “tchê”, respectivamente), muito embora elas sejam
bastante diferentes, articulatória, acústica e perceptualmente.
Resumindo: a fonética estuda as
propriedades do sons [l], [ɾ] (o “r” de “cara”) e [ɺ] (o “r” japonês) — onde a
língua bate, se as cordas vocais vibram e daí por diante (sem aplicar isso
necessariamente a língua alguma). Já a fonologia estuda o fato de que os
falantes de japonês costumam ouvir esses sons como se fosse “a mesma coisa”
([ɑligɑtoː] e [ɑɾigɑtoː] não são palavras diferentes), enquanto os falantes de
português entendem que o [l] e o [ɾ] são sons distintos (afinal, “calo” e
“caro” não são a mesma coisa) e o [ɺ] acaba sendo entendido como um dos dois
sons (mas dificilmente como algo intermediário).
Agora que você sabe a diferença entre
fonética e fonologia, você já pode estudar mais a fundo a teoria por trás de
cada uma, e se familiarizar com palavras e expressões como “alofone”, “par
mínimo” e “oclusiva surda velar”.
Referência
Mattoso Câmara Jr., Joaquim. A
História da Linguística. 6.ed. Rio de janeiro: Vozes, 1975. (Capítulo X)
Onishi, Masao.
A Grand Dictionary of Phonetics. The
Phonetic Society of Japan. Tokyo, 1981. (Grimm’s Law)
Lyons, John. Linguagem e Linguística: Uma
Introdução. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982. (Capítulo 3).
Massini-Cagliari, Gladis; Cagliari,
Luiz Carlos. Fonética. In: Introdução à Linguística: Domínios e
Fronteiras. São Paulo: Cortez Editora, 2006.
Mori, Angel Corbera. Fonologia. In: Introdução à
Linguística: Domínios e Fronteiras. Cortez Editora. São Paulo, 2006.
Olá professora Lucirene, é um prazer enorme reencontrá-la mesmo que seja dessa forma, via blog, essa distinção feita entre fonética e fonologia não deixa dúvidas mesmo do que é uma e do que é outra. Muito obrigado! Espero que encontre tempo pra visitar seus alunos da turma de letras da tarde no IESM. Fique com Deus!!
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